cara-de-sonsa
"You can use my skin to bury secrets in..."
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sexta-feira, agosto 30, 2002


Dear Sofia, here is your Horoscope for August 30, 2002

A renewed sense of physical vigor could have you plunging with
determination into whatever tasks or projects you need to take care of
today. However, your mind won't really be on them, Sofia, as you should
be feeling especially passionate at this time. Your own intellectual and
philosophical interest might be uppermost in your mind - right up there
with sex and romance! That physical vigor could prove very pleasurable
tonight! Enjoy your day.

Best wishes for today


...



O costume... Estou cansada, muito mesmo, mas não quero desistir. Estou com saudades do Inverno, da chuva, de Lx, do frio, do nevoeiro, da roupa de Inverno, do traje.
Até a solidão quase que chega a ser bonita no Inverno...


cara-de-sonsa listens to Nina Simone: Try a little tenderness


posted by Sofia Ctx | 2:22 da tarde






E se eu me pudesse sentar á frente de alguém e dizer tudo o que me apetece?

"Já não quero mais falar contigo. Sim, aquilo foi uma despedida. Por isso disse tudo o que tinha para dizer. Acabou! O teu tempo passou. Não voltes agora, é tarde demais. Se querias ficar devias ter pensado nisso antes de ir embora. Agora fechéi as portas e não as vou voltar a abrir. Acabou! O teu tempo passou..."


cara-de-sonsa sem música


posted by Sofia Ctx | 12:08 da manhã



quarta-feira, agosto 28, 2002

10 dias


Morri para o mundo. Desliguei os fios e os telefones e esqueci-me das pessoas tal como elas costumam fazer comigo. Não consegui aguentar mais. Já não havia mais resistência nenhuma que me pudesse manter ligada ao mundo. Não a este mundo que eu conheço e do qual estou cansada.



- Mãe, acho que preciso de ajuda. Não aguento mais. Estou com a cabeça desarrumada. Não me estou a sentir bem da cabeça. Estou com medo de estar sozinha. Não aguento esta dor que eu não sei explicar. Estou com medo das pessoas. Pensei que eu fosse conseguir resolver tudo sozinha, mas não consigo. Estou assim há um ano e os acontecimentos continuam a doer-me. Não sei lidar com as pessoas. Não sou capaz de resolver o que está errado comigo...





E então morri. Esqueci o orgulho e pedi ajuda. Deixei o mundo para trás e tentei pensar no que resta ou no que eu julgo que resta. Já não sei. Nem quero saber.

Desta vez não vou esconder nada. Vou deixar o sangue e o sal correr e vou passar a reagir a cada golpe. Vou passar eu a ter a faca nas mãos.

Á próxima ameaça, MATO!







Cara-de-sonsa listens to Jeff Buckley: Calling you

?A desert road from Vegas to nowhere some place better than where you?ve been...?



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Resistir não é recuperar. Nem sei mesmo se conta como método de sobrevivência. Passou um ano, um ano de dor, um ano de depressão, um ano em que quase me deixei morrer, talvez tenha mesmo morrido algumas vezes. Passou um ano em que fugi á vida e me refugiei num mundo de ficção, mas pior que isso foi acreditar e confiar no mundo de ficção.

O David sempre me disse, ?Essas pessoas não são tuas amigas. Só estão a falar contigo do outro lado do computador. É tudo mentira.? A Vanda acrescentou, ? Não podes ser assim, Sofia. Não podes acreditar nessas pessoas.? A minha tia disse, ?É tudo mentira aí, Sofia. Acorda para a vida. A vida está cá fora.?

Mas tudo aquilo parecia perfeito. Um mundo onde posso mostrar tudo o que me vai na cabeça, onde posso dizer o que sinto. Um mundo onde sou eu sem medo porque não há proximidade física. O mundo onde ninguém me conhece.

Fui tão imbecil, sou tão imbecil. A culpa nunca foi de ninguém senão minha. Fui eu que acreditei e confiei. As pessoas só vão até onde nós deixarmos. Eu deixei...

Pensei que eu fosse conseguir aguentar, pensei que eu fosse conseguir curar a minha dor de alma só porque quando precisava vinha até aqui e vomitava tudo num pvt qualquer. O pior é que eu acabo sempre por gostar de muitas das pessoas com quem falo. Acabo por me apegar ás histórias. Acabo por voltar por mais e por sentir saudades quando tudo chega ao fim.

Era de supor que tendo eu 21 anos já tivesse aprendido algumas coisas. Era de supor que com o tempo eu fosse aprendendo, mas o tempo não muda assim tanto as coisas. Só nos faz reconhecer os erros depois que os voltamos a cometer.

Só agora pareço tomar consciência do quanto tenho vindo a descer neste último ano. Talvez só mais um momento de silêncio e eu tivesse mesmo acabado por cortar os pulsos só pelo prazer de ver o meu sangue correr. Felizmente a minha cobardia e até mesmo esta estranha resistência que parece viver em mim não me deixaram cometer esse erro. Seria um grande erro. Desistir vai ser sempre um grande erro.

Agora que estou cansada tento pôr um fim ao que me cansou. Pôr fim ás noites passadas em claro, sentada na cama com medo de estar sozinha, enquanto choro em silêncio para não acordar ninguém. Pôr fim ás vezes em que chorei sem já nem saber porque choro. Pôr fim ao desejo secreto de não voltar a acordar no dia seguinte, de morrer a cada noite. Pôr fim á tentativa de parar as ideias na cabeça com uma qualquer dor física. Pôr fim a esta dor que cresce sem parar e que a cada momento se torna maior que eu e que ameaça tomar controlo do que resta desta vida. Pôr fim ao medo de ser eu e de assustar os outros. Pôr simplesmente fim ao medo que tenho de mim mesma.

Pela primeira vez pedi ajuda. Pedi ajuda á minha mãe. Não quero que mais ninguém saiba que eu preciso de ajuda. Não quero que mais ninguém me trate como se eu fosse um boneco frágil que a cada momento pode quebrar. Não quero, não quero e não quero.

Só quero matar o que me está a matar e poder seguir em frente, poder viver. Quero aprender a viver com o que nem merece ser lembrado. Quero ganhar forças com isto. Quero aprender a lidar com a vida. Quero sair daqui eu e conseguir voltar a olhar nos olhos das pessoas sem que elas me vejam. Quero tanta coisa. Acho que só quero conseguir continuar, mas desta vez quero mais que resistir ou sobreviver. Quero viver! Quero muito!

Tenho perdido tanto tempo com tanta estupidez. Tenho deixado que a minha dor aumente com coisas que nem eu percebo. Tenho deixado que tanta coisa que nem serve para deixar memória me rasgue a carne e me faça derramar mais uma lágrima. Enchi um poço neste último ano e depois fui até ao fundo, mas saí ou pelo menos estou a tentar sair enquanto ainda é possível recuperar o fôlego. Enquanto ainda me resta algum ar.

Talvez agora que tento seguir em frente eu devesse ter receio, talvez agora que tento mudar, mas estou demasiado cansada para isso. Só quero voltar á minha vida normal. Voltar a arrumar a cabeça. Matar o que me mata.

Quero paz. Muita paz. Voltar a Lisboa, conseguir concentrar-me nos meus livros, deixar de escrever, falar com as pessoas frente a frente, voltar a cantar... Quero voltar a ser eu. Quero voltar a ser eu mesma com tudo isto na mochila. Não importa. Eu carrego. Sempre carreguei todas as minhas coisas. Quero falar menos e agir mais. Quero não me lembrar de mais nenhuma dessas pessoas que por momentos me fez acreditar em algo e seja lá esse algo o que for.

Deixei-me ir abaixo esta madrugada pela última vez ou pelo menos foi esta a última vez que me deixo ir abaixo sem nem saber porque. Foi esta a última vez em que perdi a vontade de continuar e viver. Não me vou continuar a culpar de nada. Vou arrumar a cabeça e voltar a fazer a minha vida. Já esvaziei um canto em mim, talvez agora eu possa esvaziar outros.

Vou voltar a dormir uma noite inteira sem nunca acordar. Vou voltar a sentir paz quando respirar fundo. Vou matar as palavras e as pessoas que nunca chegarem a fazer parte da realidade. Vou acabar com esta ficção dolorosa. Vou voltar a ter paz de alma. É isso que eu quero.

Quero voltar a sorrir como antes!

Chega! Ficamos por aqui. Agora é só para eu agir. É comigo, é o meu caminho. É aqui que seguimos os nossos caminhos...







Cara-de-sonsa listens to Maria João & Mário Laginha: Beatriz



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Dizem que é um tumor em estado avançado e que já não há nada a fazer. A natureza vai seguir o seu curso, mas talvez fosse isso mesmo que eu acabasse por escolher. Deixai que a natureza siga o seu curso, as simple as that. Ele vai crescer e viver em mim e depois leva-me a baixo, mas eu vou levá-lo comigo. Sempre gostei assim. Eu morro, mas tu morres comigo.

Estranho não sinto nada de diferente ou talvez me tenha habituado a esse diferente á já muito tempo. Talvez sempre tenha sido diferente.

Pelo menos agora já tenho uma razão para me encher de químicos, assim como eu gosto. Como se eles fossem mudar algo. Como se os filmes a preto e branco ganhassem cores sob o efeito deles. Grande mentira. É tudo mentira.

As dores hão de chegar, disseram eles. Pois, eu vou ficar aqui quieta á espera. Quero ver quem vai doer mais a quem. Afinal, eu sempre soube ser uma grande ?pain in the ass?. Veremos quem ganha no fim.

Estou com os dias contados. No fundo todos nós estamos e sempre tivemos, mas eu já tenho a data certa marcada no calendário. Estou a pensar deitar o calendário fora. Quero ser surpreendida. Quero que ela chegue sem que eu tenha tempo de fazer seja o que for.

Não vou chorar. Não tenho vontade de chorar. Já não tenho nada para chorar. Também chorar para quê? Só se perde depois de se ter ganho. Então isto não é uma derrota.

Já fiz as malas. Não que eu precise delas, mas gosto de as ver assim. Disse as últimas palavras a quem tinha que as dizer e escrevi as cartas aqueles a quem quero poder dizer as palavras a cada nova leitura. Passei a ferro o meu fato preto. Faço questão de me vestir de luto por mim. Estou a fazer as despedidas daquilo que gosto. Colei as fotos todas na parede para poder passar estes dias com todos aqueles de quem gosto. Ocupei o lado esquerdo da cama com o cavaquinho, quero tê-lo comigo.

Não vou explicar nada a ninguém. Não vou contar nada do que se passa. Que o tempo seja depois o meu mensageiro.

Acho que já está tudo pronto para a viagem. Não há mais nada a fazer ou a dizer. As cartas já têm os selos colados. Guardei as letras das músicas que não vou poder continuar a cantar. Gravei as palavras que nunca consegui dizer ou escrever e escondi a cassete para que ninguém as possa saber. Queimei todas as minhas palavras. Não vou deixar nada de mim. Chegámos ao fim. Ficamos por aqui. Que a natureza siga o seu curso...

Talvez eu pudesse deixar memórias na cabeça de alguém. Talvez eu pudesse continuar a viver assim, mas o meu tempo já passou e eu não consegui. Que acabe então tudo agora e aqui, comigo.







Cara-de-sonsa listens to Massive Attack: Teardrop



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Sento-me aqui a deixar que tudo me volte a correr pelos dedos, directamente para o teclado como já não fazia há muitos dias. Dei descanso a mim e ao mundo. Morri para o mundo de ficção. Agora só existo no mundo real. Naquele em que as pessoas me podem ver, cheirar, tocar... É só aí que tenho existido agora. É melhor assim.

Aproveito este meu actual momento de lucidez. Estou lúcida de novo. Lúcida como já não estava há algum tempo. O cansaço físico ocupou-me a mente. Melhor que isso, ajudou-me a voltar a arrumar tudo. Cansar o corpo para ocupar a mente.

Os últimos dias têm sido passados na cama a tentar abafar os gritos dos músculos que me pedem que desista, mas eu sou mais teimosa. Sonhos com a mesma pessoa dia após dia. Garganta em muito mau estado. Na memória a lua cheia linda que vi ontem á noite e para a qual só pude olhar por escassos momentos.

Estou agora a chegar ao fim da minha terceira semana deste suplício e o melhor de tudo é que nunca tive de contar o tempo. Ele passou sozinho. Não me lembro das últimas três semanas e adoro isso. Não tive saudades de ninguém. Não perdi muito tempo a pensar em ninguém. Algumas vezes tive vontade de falar com A e outra com B. Por vezes até mesmo com C e D. Mas nada de especial. Só tenho sentido falta daqueles que têm estado comigo.

Volto agora a ouvir Nick Cave, mas não porque é depressivo, mas porque me lava a alma. Observo o cachorrinho preto que agora nos corre todos os dias pela sala. Sim, esse mesmo. O que me morde os pés, o que chora á noite quando quer companhia, o que me lambe o pescoço quando me deito no chão com ele, o que também gosta de dormir no meu colo. É bom respirar fundo e ver que não acontece nada. É bom estar calma e sentir paz de alma. É bom ver que mais uma vez sobrevivo ao golpe da desilusão. É bom continuar o meu caminho mesmo quando sinto que todos ficaram para trás. É bom ver que me vou adaptando e resistindo. É bom saber que ainda consigo aprender com os erros. É bom saber que continuo a ser eu mesmo quando mais alguém veio aqui só para meter o dedo na ferida. É bom ver que a minha casa continua no mesmo sítio e que eu nunca esqueci o caminho.

Saí da cama só para voltar a tocar estas teclas. Só para poder voltar a deitar tudo para fora e depois dormir em paz. Assim como as crianças fazem.

Estava deitada e a pensar que foi por poucos minutos que nada aconteceu. Mais um bocadinho e talvez tivesse acontecido tudo de novo. Talvez as minhas fracas resistências tivessem voltado a ceder. Mais um momento ali e eu teria voltado a dar tudo de mim. Mais uma vez e teria deixado que um grande erro acontecesse.

Aproveito agora que volto a viver e a recuperar a minha lucidez só para te dizer ou talvez só para fingir que assim te estou a dizer a ti que só mais um minutos na tua presença e poderia ter acontecido algo de grande. Mais um minuto e eu teria voltado a dar tudo...

Penso agora nisso porque nada chegou a acontecer. Penso nisso como penso em tantas outras coisas que ficaram para trás. Penso nisso tal como penso ainda em tantas coisas sobre o meu X. ?Será que ele ainda tem a mesma pronúncia bonita? Será que a voz continua rouca como antes??

Já não tenho saudades dos que decidiram partir, mas continuo a sentir carinho por alguns deles.

Acho que é melhor parar por aqui. Parar antes que eu me volte a perder entre tanta tinta. Vou voltar para a cama. Não porque ainda acredito que é aí que se resolve tudo, mas simplesmente porque me apetece. Porque voltei a falar com a minha solidão. Porque voltámos a dormir lado a lado e a sentir prazer nisso. Recuperei o espaço para onde parto agora...







Cara-de-sonsa listens to Nick Cave: The secret life of the love song

?People they ain?t no good.?



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Voltei a ligar a aparelhagem. Escolhi o c.d. da Diana Krall, lava-me a alma. Faz-me lembrar daqueles dias de inicio de Inverno no ano passado. Aqueles dias em que as aulas recomeçaram e em que eu tinha acabado de recuperar a calma. Aqueles dias em que já tenho de vestir roupa de Inverno e em que passo as manhãs de fim de semana na cama porque está demasiado frio para sair de lá e fico a ouvir o vento e a chuva na janela.

Deus, estou a sentir falta do Inverno, do frio, de Lisboa, da chuva, de ouvir grandes pianadas, de sair de casa antes do sol nascer, de ver um monte de caras e não reconhecer ninguém, de me sentir completamente sozinha numa multidão, de vestir pijamas de Inverno, de ver três filmes de seguida na mesma tarde, beber café bem quente, usar saias com collants bem grossos, sair de casa e apanhar uma grande ventania e ficar despenteada, ficar na cama a ler, sentar-me á janela a ver a chuva a cair, não pensar em nada, nem em ninguém.

Estou farta do Verão. Não gosto do Verão! É a minha época mais depressiva do ano ou então é só a época que não condiz com o meu estado depressivo que parece que dura todo o ano.

Apetecia-me fazer as malas e poder seguir sempre o Inverno para onde ele for.

Sinto falta dos dias frios e cinzentos em que tinha sempre a tua companhia...







Cara-de-sonsa listens to Diana Krall: The Look of Love

?Now that I have found you, don?t ever go. I love you so...?



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Um café, um início de manhã de Setembro, uma mesa, duas pessoas frente a frente, uma janela, o sol coberto, medo das palavras, um cigarro, uma música na cabeça, um passeio perdido de Lisboa...





Ela está tão distante. Queria tocar-lhe. Talvez não deva. Continua com o mesmo olhar triste, mas agora também está vazio. Ela mudou! Já nem parece a minha M.

Como é que eu lhe vou explicar tudo isto com a letra de uma música? Não posso! A letra não me sai da cabeça e é o suficiente para lhe explicar tudo, mas não serve. Ele vai ficar a pensar que me descontrolei de vez. Que merda! Acho que vou acabar por passar a manhã sentada em frente a ele e a fumar. Tirei os óculos de sol, mas não sei se isso chega para ele perceber seja o que for. Ele pode não conseguir ver nada aqui, nos meus olhos...
Ela está fria comigo. Parece que não vai falar. Detesto quando ela não fala. Ela fala sempre e com toda a gente. O que é que eu faço se ela não abrir a boca a manhã inteira? Ainda por cima ela não para de fumar. Nem nunca a tinha visto a fumar. Acho que eu estar ou não aqui não lhe faz muita diferença. Estava capaz de matar só para voltar a ver um sorriso naqueles lábios.
Ele continua a cheirar como eu me lembrava. Tão bom...
Não aguento muito mais. Estou com tanta vontade de lhe tocar que até dói.
Talvez eu pudesse pô-lo a ouvir a música. Só tenho que lhe pôr os phones nos ouvidos e pedir-lhe que oiça e tome atenção á letra.
Ela não dormiu esta noite. Está com umas olheiras enormes. Parece mais velha. Talvez se eu lhe perguntar alguma coisa ela acabe por falar. Está tão pálida. Se pelo menos eu pudesse resolver tudo e tirar-lhe o que lhe pesa das costas. Não gosto do olhar dela hoje.
Humm, ele está com um ar cansado. Nem fez a barba. Gosto tanto de o ver com a barba por fazer... Têm umas mãos e uns pulsos bonitos como eu gosto. E a voz? Continua linda e rouca e com a mesma pronúncia de que eu me lembrava. Tive tantas saudades tuas. Acho que já nem me lembro da letra da música que queria que tu ouvisses. Vou ficar só aqui bem quietinha e a olhar para ti.
Se eu pudesse dizer o quanto tive saudades de passar as manhãs na cama a falar contigo. Tive tantas saudades da tua voz. Olha nos meus olhos M.!
Continuo a gostar de ti. Tanto que dói. Acho que vou chorar. Take this pain away from me. Mata está dor!
Está a doer M.. Olha nos meus olhos!
Vou olhar-lhe nos olhos.
Eu sabia que tinhas de estar aí ainda, M. Dá-me um sinal...
Toca-me!
Vou tocar-lhe...







Cara-de-sonsa listens to Jeff Buckley: Forget her

?My heart is frozen still has I try to find the will to forget her somehow. She?s somewhere out there now.?


posted by Sofia Ctx | 1:46 da manhã



terça-feira, agosto 27, 2002


"Não é defeito. É virtude."


posted by Sofia Ctx | 1:41 da tarde



quarta-feira, agosto 14, 2002

Um dia tudo cede, tudo. Até as árvores. Nem todas as árvores morrem de pé.
Hoje é o meu corpo que cede. A cabeça também cedeu tanta vez. Agora chegou a vez do que resistiu. Hoje é o meu corpo que cede. Está demasiado cansado para continuar esta luta inglória. Vamos deixar de fingir que acreditamos na sorte que nos abandonou há muito. Vamos deixar para trás o anel da sorte que marca o indicador da mão esquerda há nove anos e a pulseira da sorte do pulso direito. Esqueçamos a sorte ao jogo que já deixou de funcionar. A cabeça já cedeu, agora cede o corpo. Juntemo-nos de novo.
Vou tomar um de cada vez. Vou tomar tudo o que encontrar cá em casa. Doces ou amargos, com cor ou incolor, grandes e pequenos. Talvez também tome os anti-depressivos do André, mais um menos um. Talvez assim acabe tudo numa gargalhada. Vou tomar tudo o que conseguir encontrar.
Cansei de me sentir a esvair, não em sangue, mas em cada gota de suor que me escorre pelo corpo. Em cada gota que escorre é mais um pedaço meu que morre.
Não me importo se depois me encontrarem com o olhar vidrado ou a espumar da boca. Não me importo. Também não deve ser muito diferente de todas as outras lembranças minhas que eventualmente poderão ter ficado na mente de alguém. Só mais um descontrolo. O último.
Não quero viver mais hoje. Amanhã logo decido se quero continuar.
Blackout! Silêncio! Escuridão!
Aborior...


cara-de-sonsa ultimately listens to Jeff Buckley & Brenda Kahn: Faith Salons
"Do not fear! Do not fear!"


posted by Sofia Ctx | 10:04 da tarde





Estou com saudades. Sim, de novo. Com saudades do passado e do futuro. Estou cansada do presente. Estou cansada de cada novo dia que tem a ousadia de nascer.
Estou cansada do hoje. Quero o ontem, quero o amanhã, mas não quero o hoje.
Estou cansada. Estou com o corpo cansado e a cabeça também.
Já nada funciona como antes. Só me resta esperar que amanhã funciona melhor que hoje. Sé me resta esperar e aguentar. O hoje também há-de passar...

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A mentira... Se há algo com que lido mal, sempre mal, é a mentira. Ainda me lembro do que aconteceu o ano passado com a Rute. Foi mau. Talvez se eu fosse hipócrita e não tivesse a mania de revelar o que sinto as coisas tivessem sido diferentes. Mas eu sou assim e as coisas foram assim.
A altura também não foi das melhores. O Verão de 2001 foi o pior de sempre. Com o tempo aprendemos a lidar com as coisas, mas naquela altura ainda não havia tempo para trás. Era a primeira vez que eu tava assim e acabei logo por confiar na Rute. Foi uma péssima escolha.
Foi ridiculo. Foi uma situação estúpida mas eu não sei lidar com a mentira. Posso tentar e fingir que tá tudo bem e que desculpo e que tolero, mas eu sei que é mentira e que aconteça o que aconteçer eu nunca esqueço uma mentira e um pedido de desculpas nunca a apaga.
É assim que as coisas funcionam aqui...


cara-de-sonsa listens to Três Tristes Tigres: Zap canal
"De sonhar estou farta e morta."


posted by Sofia Ctx | 9:26 da tarde



segunda-feira, agosto 12, 2002


Sinto um vazio outra vez. Não é um vazio completo, mas parcial. Um vazio daqueles que eu gosto. Um vazio no sítio que gosto.
Habitualmente o vazio assusta-me. Tenho medo de quando não há nada, quando acaba tudo. Tenho medo do vazio, mas este vazio é o vazio que eu gosto. É o vazio bom... É o vazio que a ausência deixa, é o vazio do que ficou atrás no seu tempo, é o vazio do que agora vive aqui só como memória. É o vazio do fim.

“You can use my skin to bury secrets in.”

Já não estou cansada. É tudo uma questão de hábito e de ganhar ritmo. Já o tenho. Depois da primeira semana aguenta-se tudo, mesmo quando o corpo ameaça ceder a qualquer momento. É só a cabeça fingir que está ocupada e que não está a apanhar os sinais. Distrair a mente para enganar o corpo. É estranho, mas funciona.

Ontem ganhei uma bolha na sola do pé, na sola do pé. Como é que se pode ter uma bolha na sola do pé? Será possível? Isto não é normal, mas vai daí eu também não sou normal, sou só “quase” normal. Falta o quase.

Foi um domingo calmo. Voltei a andar de comboio estava com saudades, confesso. Fui ver as vistas. Gosto de ficar parada a ver as “vistas” quando alguém fala. Eu vejo e alguém trata de dar legendas as imagens e mesmo que as legendas não correspondam ás imagens, não faz mal. Podemos marcar estas imagens com essas legendas.
Assim essas palavras serão a chave que vai abrir o meu álbum fotográfico mental. Eu vejo e tu falas.
Foi um domingo calmo...

“I cry tears of joy, tears of pain. I cry and I cry tears of love again and again.”

Já fiz planos para o meu fim de Setembro. Trabalho até dia 20 e depois vou levar o André ao oceanário, quero ir á praia, ir até Vendas Novas e depois vem Outubro.
Assim que começar Outubro “mudo-me” para Lisboa. Preciso disso. Estou a morrer de saudades. Depois faço questão de lá estar sempre, todos os dias. Passar todo o meu tempo lá. Talvez ir finalmente aprender a tocar tudo no bombo, sentar-me nas escadas de entrada da Faculdade a ver o pôr-do-sol, arranjar livros para ler no comboio, ir gozar
da esplanada do VG, matar saudades das memórias Orientais, perder-me entre as pessoas. Acho que me vou dar ao luxo de me voltar a perder, esquecer-me de mim, não ver nem ser vista, ser só uma cidadã anónima entre tantos outros.

- Sim?
- É você a dona de um Fiat avariado?
- Não.
- Então desculpe, é engano.

“In your presence I’m lost for words.”

As minhas lembranças vêm todas acompanhadas de uma imagem e uma música. Para casa acontecimento uma imagem e uma música. São momentos que ficaram e que com a chave certa desencadeiam lembranças cá dentro.
Cada pessoa vêm com uma música e uma imagem. É tão estranho, mas tão simples. Não fui eu que escolhi ou decidi guardar as memórias juntamente com as músicas e as imagens que me marcaram, mas as imagens e as músicas é que fazem parte das memórias. Completam-se.
- Tu ficas com esta esplanada e esta música que partilhámos e assim este espaço será sempre o teu espaço comigo, o nosso espaço. Assim como aquele sofá e o banco do outro lado. Assim como aquela quinta-feira de Inverno em que esperaste por mim no sítio mais frio e eu te fui buscar com um sorriso nos lábios porque tu estavas ao telemóvel a tentar explicar-me onde era que estavas perdido. Vamos guardar também a mesa grande onde ralhaste comigo por causa da minha gula e onde fumaste timidamente o teu cigarro porque tinhas medo que eu te repreendesse. O canto daquela loja onde me obrigaste a controlar o meu lado consumista com a tua persistência. A minha cama ao nascer do dia. O sofá na noite de Natal. A estação de metro naquela segunda-feira. Talvez seja melhor ficarmos por aqui. Vamos guardar-te junto com todas aquelas músicas que me fazem lembrar de ti. Vamos pôr tudo numa caixinha, uma caixinha que guardo só para ti, a tua caixinha.

“Tenho uma tristeza que ainda não conheço bem.”

No Sábado choveu. Foi um dia de Verão com chuva como eu tanto gosto. Um daqueles dias em que apetece sair á rua só para poder sentir a chuva a cair sobre mim, ver como as coisas se modificam, sentir os cheiros, olhar para o céu de olhos abertos, lamber as gostas de chuva que escorregam pelo rosto.
Saí no Sábado. Sentei-me na erva seca acastanhada com os pingos de chuva a caírem e com três cachorrinhos a dormirem ao meu colo. Foi um Sábado quase perfeito. Um Sábado com paz como eu gosto e com as imagens, sons e cheiros que me reconfortam a alma. Um cachorrinho branco, um preto e um castanho com as patas brancas. Lindos!
Agora para me reconfortar fecho os olhos e fico lá. Deixa-me um gostinho doce na boca.
Para ser perfeito só me faltou mesmo ter alguém com quem partilhar o silêncio da minha visão deste dia de chuva de Verão. A perfeição vai estar sempre onde e com quem eu conseguir partilhar o silêncio.

A vulnerabilidade exala algum odor?
Eu acho que sim e um bem forte. As pessoas sentem quando estamos vulneráveis e aproveitam-se disso. São como os cães que nos farejam em reconhecimento e que agem segundo aquilo que acabam de perceber através do odor que o nosso corpo exala. Somos usados e abusados ou porque somos demasiado honestos para esconder ou porque somos ambiciosos para perdermos a oportunidade de olhar pela nossa pele. Somos a pior raça.

Egoísta, adj. E s. 2 gén. (do Grego égo). Que, ou a pessoa que só se preocupa com os seus próprios interesses.

O que eu me pergunto é, onde está o erro em nos preocuparmos com a nossa pele e em gozar a única vida que temos? Será que é assim tão mau ser egoísta? Será que existe algum erro em nos preocuparmos com os nossos interesses? Não será que o erro está naqueles que não são egoístas e logo talvez não passem de estúpidos?


Perdi a paciência com a Rita. Sim, aquela mesma Rita que faz parta da minha infância e do meu crescimento e que voltou agora a estar ligada a minha idade supostamente adulta. Não quero ouvir mais histórias de engates, nem de como a mãe lhe arranjou mais uma cunha, de como ela alucina os homens, de como ela está apaixonada pela milésima vez este ano, de como ela é uma pessoa sensível, de como ela está cansada de apalpar tomates, bla, bla, bla... Estou farta de ouvir as queixas de alguém que não sabe ouvir. Estou sem paciência para a menina mimada que é virgem, mas só de signo. Cansei!

Não quero alguém que me diga que é sensível, mas que me prove que o é. Não quero alguém que me diga que é meu amigo, mas que o demonstre. Não quero alguém que me diga que gosta de mim, mas que mostre que isso é verdade.
Estou farta de tantas palavras e tão poucos gestos. A partir de agora as palavras terão de vir acompanhadas de gestos, acções que me sirvam como provas daquilo em que eu devo acreditar.
A partir de hoje e até prova em contrário todos serão culpados para mim. Cansei-me de dar o benefício da dúvida. Quem não quiser cumprir pena porque é inocente que prove o mesmo em tribunal e que deixe que o júri decida se eu posso ou não acreditar.
Já vai sendo altura de eu tentar controlar a minha inocência e credulidade ou sei lá o que é isto que eu sou e que eles gostam de se aproveitar. Vamos parar de jogar com a Sofia. É melhor sem joguinhos.

Vou tomar banho. Ficar de molho. Ensaboar-me e lavar o cabelo. Livrar-me deste cheiro a trabalhadora do campo que ainda não descobriu o desodorizante. Vou tratar da alma tratando deste, não velho mas a envelhecer, corpo cansado. Vou fazer-me á vida ou melhor vou desfazer a vida que fiz hoje. Só por um bocadinho.

“Escrever só serve para perder os sentidos quando são os outros a escrever.”


Cara-de-sonsa listens to Jeff Buckley: Lilac Wine(live)
“I think more than I want to think. Two things I never should do. I drink much more than I ought to drink ‘cause it brings me back you...”








posted by Sofia Ctx | 10:02 da tarde



domingo, agosto 11, 2002

Estou a ouvir uma música que alguém me mandou numa madrugada há algum tempo, dia 15 de Julho.
Senti carinho por esse momento algo doce que esta música acaba por marcar. Um domingo, fim de tarde, eu no quarto deitada e com a janela aberta e alguém a fazer-me companhia ao telemóvel. Era uma companhia simpática, mas foi-se com o tempo. Uma música... Ficou uma música.
Acho que essa música vai ser a minha ligação a um momento de algo que passou e acabou. Uma memória sonora que alguém me deixou. A música vai ser a marca que essa pessoa deixou.
It just leaves me with no words...
Esta nostálgia toda as vezes faz-me sentir tão velha. Passou tudo e acabou. As histórias que continuam parecem pouquinhas, mas servem para junto com as memórias me deixarem um sorriso nos lábios e este é dedicado a ti. Obrigada! *

cara-de-sonsa listens to the music...


posted by Sofia Ctx | 3:27 da manhã



sábado, agosto 10, 2002


Este vai ser o meu único fim de semana livre até ao fim de Setembro. Vou passa-lo aqui e na cama. Talvez vá passear e ver a chuva. Gosto tanto quando chove no Verão. É tão lindo!
Mas tou cansada e com preguiça, não sei. Decido mais tarde.

Ultimamente tenho estado nostálgica com alguma frequência e tenho tido saudades muitas vezes. Também tive saudades da Sofia.
As vezes acordo com pesadelos ou tenho insónias e apetece-me entrar aqui e dar de “caras” com alguém que goste de falar comigo porque eu sou assim. Alguém que não me cobre nada e que me deixe ser sempre eu. A Sofia é uma dessas pessoas e como se isto não bastasse ainda consegue ouvir e fazer-me sentir menos mal, nem que seja só porque diz que o que me vai na cabeça faz sentido.
É por isso que ás vezes a procuro, pelo reconforto. What else can I say?
Obrigada, Sofia!

- Estou a ouvir mal. Não acho os buracos do telemóvel. Isto tá com um som esquisito.
- O quê? O que é que se passa?
- Ooops... Estava a falar nas costas do telemóvel. Acho que o ácido de tomate me está a dar cabo da cabeça...
- Eu não acredito nisto. Sabes que vou gozar contigo até ao resto da tua vida por causa disso?
Gargalhadas, gargalhadas, gargalhadas...

Não se dá e cobra no momento seguinte. Isso não é dar. Isso é usar. Isso é ter interesses em jogo. Não é bom, nem honesto. Não gosto disso.

"23% das avarias em fotocopiadoras, a nível mundial, são causadas por pessoas que se sentam no aparelho para fotocopiarem o traseiro."

Hoje está de chuva. Chuva no Verão. Gosto de ficar na rua a olhar para o céu de olhos abertos quando chove...

Vou comer bolachas integrais com doce de pera.


Listening to Rui Veloso: Sei de uma camponesa


posted by Sofia Ctx | 5:30 da tarde



sexta-feira, agosto 09, 2002

"Há coisas que acontecem."

15:56m, passo o cartão. 680 como no ano passado. vestiários, 228. Visto-me de vermelho como todas as outras, ponho as luvas, troco os sapatos e as calças. Lá vou eu atrasada como sempre.
Calor e barulho. Já não aguento mis o barulho e as dores nos músculos. Conto todos os minutos.

"Vai a Merda, Sofia"
"Mandaste-me a merda? Lembra-te só que nunca falei assim contigo..."

É ele. Reconheco-o pelos pés, mas gosto mesmo é dos ombros, da cor da pele, a barba por fazer, o cabelo... Hummm, esse sorriso dá-me tanto prazer. Gosto quando passas.

Por eles mato. Mato pelos meus irmãos. Nunca tinha pensado nisso, mas acho que talvez eu tenha mesmo uma relação obcessiva com eles. Não sei, mas é o que sinto. Que ninguém lhes toque. Que ninguém magoe ou eu vou ter de agir.
Por eles faço o que nunca faria por mim, nunca.

18h, pés molhados, mãos suadas, os músculos já começam a doer, boca seca.
Pensa um dia de cada vez, Sofia. Não podes desistir. Desistir não.

Mais que cansada, estou exausta. Das 16h as 24h conto todos os minutos. Parece que o tempo não passa. Mas o que têm mais piada é que não me lembro de nenhum dia desta semana e gosto disso. Gosto quando não vejo o tempo passar.

Substituir? O meu X? Como pode alguém ser tão ousado?
Ele é insubstituivel. É o sonho que ficou por realizar. Não é uma marca que o tempo acabe por apagar. Ele vai viver sempre aqui. Deixou uma marca como aquelas que se faz no tronco de uma árvore. Primeiro parece mais profunda e deita seiva, mas não há tempo que a apague. Fica sempre lá.
Em mim ficou um X, um X que vou sonhar sempre.

As pessoas acham sempre que podem ir e voltar quando quiserem, mas o que elas não sabem é que ninguém vai esperar por elas. Não se espera por quem decide partir.

3h da manhã, a voz suave e calma que faz companhia sem que se tenha de abandonar a cama ou o sofá. É assim que eu mais gosto agora. Vamos ficar assim...

Já estou cansada. Estou com dores nos músculos e vontade de ficar na cama. Agora constipei-me. Uma merda. Nos últimos dias tenho estado sempre sedada. Faço tudo á base do comprimido para a cabeça, para a constipação, para o estomâgo, para a falta de ar...
Estou tão podre. Não aguento mais andar com os pés molhados, com dores nos músculos, ouvir falar crioulo, ter de esperar, ter horários a cumprir, ter de obedecer a ordens de pessoas a quem nem consigo respeitar.
Mas não vou desistir. Não posso.

Ontem ele deu noticias. Afinal ainda guarda o meu número e ainda o usa. Foi bom. Foi como o chupa que deixa um gostinho doce na boca. A mim deixou-me um sorriso. Deixa sempre um sorriso.



Listening to Aimee Man: Wise up


posted by Sofia Ctx | 2:38 da manhã



quinta-feira, agosto 08, 2002

Dear Sofia, here is your Horoscope for August 08, 2002

Today your level of imagination and intuition is especially high,
Sofia. Trust your heart today, especially where new projects and money
are concerned. Insights may appear to be knocking at the doors of your
conscious mind, yet it might take some deep thought to grasp their
significance. Don't try to work it out through logic; it's best to let
it all come to you. Then make use of logic to consider what you should
do about it!

Best wishes for today


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Estou cansada, já. Com dores nos músculos todos, na cabeça, no estomâgo. Não fosse esta teimosia que anda sempre comigo e já teria desistido, mas não vou desistir.
E já só faltam 6 semanas e meia, mas eu consigo.


posted by Sofia Ctx | 2:21 da tarde



quarta-feira, agosto 07, 2002


5/08/2002

Detesto este sentimento de impotência. Este sentir que as coisas estão erradas e não as poder mudar. Gostava de poder voltar atrás no tempo só para poder mudar algumas coisas ou poder pegar numa borracha e apagar a tinta que não devia ter corrido.
Queria hoje não ser eu. Acordar e não ser eu. Não ter de pensar nas coisas erradas, não ter a consciência pesada, não ter de lidar com os erros.
Estou cansada. Cansei-me!
Sinto o tempo a passar. O meu tempo está a passar e as coisas não acontecem e eu sem pensar salto e tento fazer com que aconteçam, mas as coisas acabam por piorar e eventualmente morrer.
Já não sei se quero continuar. Não consigo deixar o passado para trás. Não consigo esquecer as memórias. Não quero o que há-de vir, mas remediar o que passou. Não quero lembrar mais deste cheiro que me ficou nas mãos ou das palavras ditas por uma voz rouca, os sorrisos, o sal das músicas...
Queria tanto esquecer as pessoas que decidiram partir, a chuva a bater na janela, as luzes da ponte reflectidas no Tejo quando já de noite regresso a casa no comboio, as papoilas vermelhas ao lado da linha, o nascer do sol naquela manhã de Sábado em que as gaivotas sobrevoaram o Oriente.
Queria agora poder morrer contigo e com todos aqueles que não passam de lembranças que deixaram marcas e depois poder renascer. Não como a fénix que renasce das cinzas, mas como eu que sobrevivi ao sal.
Sinto-me gasta pelo sal. Estou a ficar corroída. Eventualmente isto que ainda aqui está vai mesmo deixar de existir.
Os novos acontecimentos reabriram as feridas, aquelas que nunca chegaram a cicatrizar.
Se pelo menos tu pudesses deixar de ser este sabor doce na minha boca. Este sabor que já começa a enjoar e que chega mesmo a causar-me náuseas. O meu estômago não aguenta muito mais. A qualquer momento acabo por vomitar tudo e o pior é que sem forças como eu estou agora o mais provável é que eu me deixe ir com o meu vomitado.
Já me estou a imaginar. Um edifício grande e branco, um jardim, pessoas vazias... Já me estou a ver passar os dias sentada naquele banco de jardim a olhar as paredes e a chorar os dias, demasiado sedada para sequer me lembrar porque ainda choro. A chorar por hábito.
Um dia ainda me hei-de tentar recuperar, mas já será tarde demais. Um dia deixa de sobrar o que quer que seja de mim. Um dia perco-me nas memórias, no sal e sufoco no vomitado. Um dia deixo de me conseguir lembrar do meu nome.
Estou com medo.
Preciso de me recuperar. Preciso de me encontrar. Preciso de matar aquilo que sou hoje. Preciso de trocar este cansaço mental por exaustão física. Preciso deixar que os dias passem na cama.
Deixa-me fazer o caminho sozinha, mas promete-me que se eu cair tu vais estar aí e vais ajudar-me a levantar.
Por favor procura-me e traz-me de volta para mim.



“Os anos passaram. Mas levavam-me com eles.”



Listening to Dead Can Dance: Persian Love Song


posted by Sofia Ctx | 12:39 da manhã



domingo, agosto 04, 2002


Sem medo.
Saltar da varanda só porque me apetece.
Sem medo de cair.
Ficar suspensa no ar. Flutuar. Sentir o vento nos meus cabelos.
Guardar o sol no bolso.
Apagar a lua no interruptor só porque de outro modo não conseguiria desviar os olhos dela e adormecer.
Usar as nuvens como colchão, o tecto do mundo como cobertor, o braço como almofada.
Deixar que o vento passe por mim e leve tudo.
Ficar leve, leve, cada vez mais leve.
Esquecer.
Bocejar, pestanejar, esfregar os olhos e o nariz.
Dormir. Sonhar.
Perder a cabeça e ficar sem ideias.
Transformar-me numa estrela bem pequenina e colar-me num cantinho do azul infinito.
Tentar brilhar.
Um pontinho luminoso na escuridão ilimitada.
Dormir & Sonhar.
Só dormir e sonhar.
Nunca mais ter de acordar.



“Vai e não olhes para trás...”


Listening to Jorge Palma: Dizem que não sabiam quem era



posted by Sofia Ctx | 7:26 da tarde



sábado, agosto 03, 2002

Dear Sofia, here is your Horoscope for August 03, 2002

Changes in your working environment could result in a rise in your
income, Sofia. You've been working very hard in order to advance
yourself in this regard, and are likely to continue to do so
indefinitely. Your natural communications skills continue to serve you
well, and your physical energy is likely to be stronger than it has been
for a long time. The only downside: Very little time to yourself! Hang
in there!

Best wishes for today

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O Pedro diz que não se pode ser sincero com as pessoas porque isso as assusta. Ele diz que toda a gente têm medo da verdade. Eu não queria acreditar, tenho feito de tudo para fingir que não acredito nisso, mas a verdade é que cada vez estou mais perto de acreditar nisso. As relações para funcionarem têm de ser baseadas na hipócrisia.
Será que é por isso que tenho sido uma falhada?
Se a minha sinceridade estiver realmente a assustar as pessoas então suponho que estou condenada á solidão. Não tenciono mudar aquilo que sou só para evitar algumas lágrimas quando alguém decide fazer as malas e mudar de rumo... Eu sou assim, claro que espero que com o tempo isto que sou melhore, mas não vou deixar de ser eu para agradar seja a quem for. Até porque não o consigo fazer...
Também já conheçi pessoas que aguentaram toda a sinceridade e que me dão toda a sinceridade, so I suppose that what will have to come will come. Eu gosto que me testem para saber se eu aguento e vou continuar a fazer o mesmo. Quem tiver medo da verdade que aprenda a viver num filme, num cinema longe de mim.
Acho que agora simplesmente vou deixar de pensar nisso. O que tiver que acontecer acontecerá, pelo menos eu acho que as "coisas" ainda funcionam assim, mas whatever...


Listening to Jeff Buckley: Forget her


posted by Sofia Ctx | 5:23 da tarde



sexta-feira, agosto 02, 2002


“I was 20 years old when I met you and as soon as I saw you I knew what I had to do. I still remember the way you looked and how I wanted to tell you, I want to take you home.”

Azul. Azul como o céu, o mar, azul infinito, azul como a camisola de gola alta que comprei em Janeiro, azul solidão, água, frio, lágrimas, dor, o meu telemóvel, a tua cor. Azul como o “Meu amor existe”, o piano e a voz do Jorge Palma a cantar uma letra bonita. Azul de olhos fechados, azul na cama, azul o quarto...

“So for the time being I’ll be patient...”

Cor-de-rosa. Cor-de-rosa como a paciência, o céu ao fim da tarde depois do pôr do sol, as minhas meias preferidas, os ganchos que ponho no cabelo, as camisolas, a voz rouca do C.D. que de vez em quando ponho na aparelhagem. Cor-de-rosa doce, terno, gentil, amizade, morno. Cor-de-rosa como tu com um piscar de olhos e um sorriso. Cor-de-rosa as rosas, os chupa-chupas, tapetes. Cor-de-rosa ao fim de tarde, sentada na varanda com os olhos fechados. Cor-de-rosa de mãos dadas. Cor-de-rosa voar.

“I’m only here for this moment...”

Preto. Preto sempre, casamento, fim, luto, dor, saia preta. Preto como nos sonhos em que não consigo ver. Preto o meu quarto durante o dia, escuridão, solidão. Preto queima, obscuro, soturno, roupa interior, sóbrio, adulto, viúva, tuna, música, olhos fechados, capas, anos. Preto em palco, uma foto, esta música, histórias. Preto adeus.

“Podes vir chorar no meu peito as mágoas e as desventuras.”

Verde. Verde maçãs, cabelo preto, vento, doce na boca, sorriso, calma, paz. Verde flor, poesia de amor, terra. Verde infância, feliz... Verde ao dormir no teu ombro, bonecos, criança. Verde ao longe, verde á volta. Verde esperança?

“Aonde você for eu vou.”

Amarelo. Amarelo algodão, piadas, gargalhadas. Amarelo lençóis na cama, cheiro a lavado, pés quentes. Amarelo rebuçados. Amarelo nas nuvens, saltar á corda, moedas. Amarelo doce...

“You can use my skin to bury secrets in.”

Vermelho. Vermelho paixão, sangue. Vermelho no peito. Vermelho morrer. Vermelho X. Vermelho espinho de rosa que rasga a carne. Vermelho dor, lágrimas, ódio. Vermelho foste.

“From this moment how can it feel this wrong?”

Branco. Branco no fim, vazio, sal, frio. Branco o Inverno, o silêncio, o quarto vazio. Branco o papel. Branco sem palavras...




posted by Sofia Ctx | 6:28 da tarde





Nostalgia, s.f. ( do Gr. nostós+álgos). Sentimento de trsisteza e abatimento mais ou menos profundos, motivados por afastamento de lugares, pessoas ou coisas que se amam e pelo desejo de as tornar a ver.

Nostalgia n [U] the feeling of sadness mixed with pleasure when one thinks of a happy period, event, earlier in one's life.

Nostalgie n.f. Regret mélancolique (d'une chose révolue ou de ce qu'on n'a pas connu) ; Désir insatisfait. » Mélancolie.

Eu listening to Peggy Lee: The very thought of you


posted by Sofia Ctx | 12:40 da manhã



quinta-feira, agosto 01, 2002


18h12m, o telemóvel toca.

- Sim?
- Boa tarde! Sofia Cartaxo? Aqui fala da $%&§. Era só para lhe dizer que foi seleccionada e que começa a trabalhar na segunda.

Seleccionada para ir trabalhar? E que tal seleccionarem-me para ganhar prémios? Para isso ninguém me selecciona, pois não?
Só de me lembrar como foi no ano passado já estou cansada. No primeiro dia tive pesadelos de noite e tudo. Já estou a ver tudo, turnos que me deixam toda trocada e sempre com o sono em atraso, dores musculares, nódoas negras, refeições mal feitas, dores de estômago, perda de peso, olheiras bem negras e até ao queixo, mas muita companhia, muitas histórias e muita, muita, muita gargalhada em boa companhia.
O ano passado fiquei até ao último dia de trabalho, até ás máquinas pararem ás 24h e este ano vou fazer o mesmo. Nem que isso signifique rapara frio nas madrugadas de Setembro, apanhar chuva, levar grandes molhas...
Sempre fui preguiçosa, mas guardo do meu último Verão de trabalho grandes memórias. Vai ser bom e mau, mas tudo o que é bom tem d ter algo de mau e gaja, que é gaja aguenta.
Me aguarde...


Cara-de-sonsa listens to K’s choice: Quiet little place





posted by Sofia Ctx | 6:18 da tarde





Uma crise de choro daquelas que já não tinha há imenso tempo. Fecho-me no quarto ás escuras, com música depressiva e vá de chorar agarrada aos lençóis a tentar engolir os gritos de cada vez que os mordo. Motivo de hoje: falhada nas relações com as pessoas, é isso que me sinto.
O telemóvel toca. Limpo a cara aos lençóis, tento não fungar e disfarçar a voz que está rouca demais. Belo timing...
-Sim?
-Olá!
Ele vai tentando falar, felizmente não decidiu perguntar o que se passa com a minha voz, disfarça muito bem quando quer. Ás vezes é gentil comigo.
Acabo por lhe dizer o que se passa, o costume, e ele também faz o interrogatório do costume. Não falamos muito mais tempo, por enquanto, ele vai de viagem.
Mais tarde uma conversa doce com alguém de quem tenho sempre saudades, um passeio com a Rita, um rafeiro lindo que se deita a meus pés e corre atrás de mim quando volto para casa.
Uma noite calma, at last. Durmo descansada e sem pesos na consciência, mas só depois de estourar o saldo do telemóvel só por uma boa conversa e uma boa companhia. Mas nunca me arrependo disso.


cara-de-sonsa listens to Lauryn Hill: When it hurts so bad


posted by Sofia Ctx | 10:20 da manhã