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quarta-feira, agosto 28, 2002
10 dias
Morri para o mundo. Desliguei os fios e os telefones e esqueci-me das pessoas tal como elas costumam fazer comigo. Não consegui aguentar mais. Já não havia mais resistência nenhuma que me pudesse manter ligada ao mundo. Não a este mundo que eu conheço e do qual estou cansada.
- Mãe, acho que preciso de ajuda. Não aguento mais. Estou com a cabeça desarrumada. Não me estou a sentir bem da cabeça. Estou com medo de estar sozinha. Não aguento esta dor que eu não sei explicar. Estou com medo das pessoas. Pensei que eu fosse conseguir resolver tudo sozinha, mas não consigo. Estou assim há um ano e os acontecimentos continuam a doer-me. Não sei lidar com as pessoas. Não sou capaz de resolver o que está errado comigo...
E então morri. Esqueci o orgulho e pedi ajuda. Deixei o mundo para trás e tentei pensar no que resta ou no que eu julgo que resta. Já não sei. Nem quero saber.
Desta vez não vou esconder nada. Vou deixar o sangue e o sal correr e vou passar a reagir a cada golpe. Vou passar eu a ter a faca nas mãos.
Á próxima ameaça, MATO!
Cara-de-sonsa listens to Jeff Buckley: Calling you
?A desert road from Vegas to nowhere some place better than where you?ve been...?
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Resistir não é recuperar. Nem sei mesmo se conta como método de sobrevivência. Passou um ano, um ano de dor, um ano de depressão, um ano em que quase me deixei morrer, talvez tenha mesmo morrido algumas vezes. Passou um ano em que fugi á vida e me refugiei num mundo de ficção, mas pior que isso foi acreditar e confiar no mundo de ficção.
O David sempre me disse, ?Essas pessoas não são tuas amigas. Só estão a falar contigo do outro lado do computador. É tudo mentira.? A Vanda acrescentou, ? Não podes ser assim, Sofia. Não podes acreditar nessas pessoas.? A minha tia disse, ?É tudo mentira aí, Sofia. Acorda para a vida. A vida está cá fora.?
Mas tudo aquilo parecia perfeito. Um mundo onde posso mostrar tudo o que me vai na cabeça, onde posso dizer o que sinto. Um mundo onde sou eu sem medo porque não há proximidade física. O mundo onde ninguém me conhece.
Fui tão imbecil, sou tão imbecil. A culpa nunca foi de ninguém senão minha. Fui eu que acreditei e confiei. As pessoas só vão até onde nós deixarmos. Eu deixei...
Pensei que eu fosse conseguir aguentar, pensei que eu fosse conseguir curar a minha dor de alma só porque quando precisava vinha até aqui e vomitava tudo num pvt qualquer. O pior é que eu acabo sempre por gostar de muitas das pessoas com quem falo. Acabo por me apegar ás histórias. Acabo por voltar por mais e por sentir saudades quando tudo chega ao fim.
Era de supor que tendo eu 21 anos já tivesse aprendido algumas coisas. Era de supor que com o tempo eu fosse aprendendo, mas o tempo não muda assim tanto as coisas. Só nos faz reconhecer os erros depois que os voltamos a cometer.
Só agora pareço tomar consciência do quanto tenho vindo a descer neste último ano. Talvez só mais um momento de silêncio e eu tivesse mesmo acabado por cortar os pulsos só pelo prazer de ver o meu sangue correr. Felizmente a minha cobardia e até mesmo esta estranha resistência que parece viver em mim não me deixaram cometer esse erro. Seria um grande erro. Desistir vai ser sempre um grande erro.
Agora que estou cansada tento pôr um fim ao que me cansou. Pôr fim ás noites passadas em claro, sentada na cama com medo de estar sozinha, enquanto choro em silêncio para não acordar ninguém. Pôr fim ás vezes em que chorei sem já nem saber porque choro. Pôr fim ao desejo secreto de não voltar a acordar no dia seguinte, de morrer a cada noite. Pôr fim á tentativa de parar as ideias na cabeça com uma qualquer dor física. Pôr fim a esta dor que cresce sem parar e que a cada momento se torna maior que eu e que ameaça tomar controlo do que resta desta vida. Pôr fim ao medo de ser eu e de assustar os outros. Pôr simplesmente fim ao medo que tenho de mim mesma.
Pela primeira vez pedi ajuda. Pedi ajuda á minha mãe. Não quero que mais ninguém saiba que eu preciso de ajuda. Não quero que mais ninguém me trate como se eu fosse um boneco frágil que a cada momento pode quebrar. Não quero, não quero e não quero.
Só quero matar o que me está a matar e poder seguir em frente, poder viver. Quero aprender a viver com o que nem merece ser lembrado. Quero ganhar forças com isto. Quero aprender a lidar com a vida. Quero sair daqui eu e conseguir voltar a olhar nos olhos das pessoas sem que elas me vejam. Quero tanta coisa. Acho que só quero conseguir continuar, mas desta vez quero mais que resistir ou sobreviver. Quero viver! Quero muito!
Tenho perdido tanto tempo com tanta estupidez. Tenho deixado que a minha dor aumente com coisas que nem eu percebo. Tenho deixado que tanta coisa que nem serve para deixar memória me rasgue a carne e me faça derramar mais uma lágrima. Enchi um poço neste último ano e depois fui até ao fundo, mas saí ou pelo menos estou a tentar sair enquanto ainda é possível recuperar o fôlego. Enquanto ainda me resta algum ar.
Talvez agora que tento seguir em frente eu devesse ter receio, talvez agora que tento mudar, mas estou demasiado cansada para isso. Só quero voltar á minha vida normal. Voltar a arrumar a cabeça. Matar o que me mata.
Quero paz. Muita paz. Voltar a Lisboa, conseguir concentrar-me nos meus livros, deixar de escrever, falar com as pessoas frente a frente, voltar a cantar... Quero voltar a ser eu. Quero voltar a ser eu mesma com tudo isto na mochila. Não importa. Eu carrego. Sempre carreguei todas as minhas coisas. Quero falar menos e agir mais. Quero não me lembrar de mais nenhuma dessas pessoas que por momentos me fez acreditar em algo e seja lá esse algo o que for.
Deixei-me ir abaixo esta madrugada pela última vez ou pelo menos foi esta a última vez que me deixo ir abaixo sem nem saber porque. Foi esta a última vez em que perdi a vontade de continuar e viver. Não me vou continuar a culpar de nada. Vou arrumar a cabeça e voltar a fazer a minha vida. Já esvaziei um canto em mim, talvez agora eu possa esvaziar outros.
Vou voltar a dormir uma noite inteira sem nunca acordar. Vou voltar a sentir paz quando respirar fundo. Vou matar as palavras e as pessoas que nunca chegarem a fazer parte da realidade. Vou acabar com esta ficção dolorosa. Vou voltar a ter paz de alma. É isso que eu quero.
Quero voltar a sorrir como antes!
Chega! Ficamos por aqui. Agora é só para eu agir. É comigo, é o meu caminho. É aqui que seguimos os nossos caminhos...
Cara-de-sonsa listens to Maria João & Mário Laginha: Beatriz
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Dizem que é um tumor em estado avançado e que já não há nada a fazer. A natureza vai seguir o seu curso, mas talvez fosse isso mesmo que eu acabasse por escolher. Deixai que a natureza siga o seu curso, as simple as that. Ele vai crescer e viver em mim e depois leva-me a baixo, mas eu vou levá-lo comigo. Sempre gostei assim. Eu morro, mas tu morres comigo.
Estranho não sinto nada de diferente ou talvez me tenha habituado a esse diferente á já muito tempo. Talvez sempre tenha sido diferente.
Pelo menos agora já tenho uma razão para me encher de químicos, assim como eu gosto. Como se eles fossem mudar algo. Como se os filmes a preto e branco ganhassem cores sob o efeito deles. Grande mentira. É tudo mentira.
As dores hão de chegar, disseram eles. Pois, eu vou ficar aqui quieta á espera. Quero ver quem vai doer mais a quem. Afinal, eu sempre soube ser uma grande ?pain in the ass?. Veremos quem ganha no fim.
Estou com os dias contados. No fundo todos nós estamos e sempre tivemos, mas eu já tenho a data certa marcada no calendário. Estou a pensar deitar o calendário fora. Quero ser surpreendida. Quero que ela chegue sem que eu tenha tempo de fazer seja o que for.
Não vou chorar. Não tenho vontade de chorar. Já não tenho nada para chorar. Também chorar para quê? Só se perde depois de se ter ganho. Então isto não é uma derrota.
Já fiz as malas. Não que eu precise delas, mas gosto de as ver assim. Disse as últimas palavras a quem tinha que as dizer e escrevi as cartas aqueles a quem quero poder dizer as palavras a cada nova leitura. Passei a ferro o meu fato preto. Faço questão de me vestir de luto por mim. Estou a fazer as despedidas daquilo que gosto. Colei as fotos todas na parede para poder passar estes dias com todos aqueles de quem gosto. Ocupei o lado esquerdo da cama com o cavaquinho, quero tê-lo comigo.
Não vou explicar nada a ninguém. Não vou contar nada do que se passa. Que o tempo seja depois o meu mensageiro.
Acho que já está tudo pronto para a viagem. Não há mais nada a fazer ou a dizer. As cartas já têm os selos colados. Guardei as letras das músicas que não vou poder continuar a cantar. Gravei as palavras que nunca consegui dizer ou escrever e escondi a cassete para que ninguém as possa saber. Queimei todas as minhas palavras. Não vou deixar nada de mim. Chegámos ao fim. Ficamos por aqui. Que a natureza siga o seu curso...
Talvez eu pudesse deixar memórias na cabeça de alguém. Talvez eu pudesse continuar a viver assim, mas o meu tempo já passou e eu não consegui. Que acabe então tudo agora e aqui, comigo.
Cara-de-sonsa listens to Massive Attack: Teardrop
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Sento-me aqui a deixar que tudo me volte a correr pelos dedos, directamente para o teclado como já não fazia há muitos dias. Dei descanso a mim e ao mundo. Morri para o mundo de ficção. Agora só existo no mundo real. Naquele em que as pessoas me podem ver, cheirar, tocar... É só aí que tenho existido agora. É melhor assim.
Aproveito este meu actual momento de lucidez. Estou lúcida de novo. Lúcida como já não estava há algum tempo. O cansaço físico ocupou-me a mente. Melhor que isso, ajudou-me a voltar a arrumar tudo. Cansar o corpo para ocupar a mente.
Os últimos dias têm sido passados na cama a tentar abafar os gritos dos músculos que me pedem que desista, mas eu sou mais teimosa. Sonhos com a mesma pessoa dia após dia. Garganta em muito mau estado. Na memória a lua cheia linda que vi ontem á noite e para a qual só pude olhar por escassos momentos.
Estou agora a chegar ao fim da minha terceira semana deste suplício e o melhor de tudo é que nunca tive de contar o tempo. Ele passou sozinho. Não me lembro das últimas três semanas e adoro isso. Não tive saudades de ninguém. Não perdi muito tempo a pensar em ninguém. Algumas vezes tive vontade de falar com A e outra com B. Por vezes até mesmo com C e D. Mas nada de especial. Só tenho sentido falta daqueles que têm estado comigo.
Volto agora a ouvir Nick Cave, mas não porque é depressivo, mas porque me lava a alma. Observo o cachorrinho preto que agora nos corre todos os dias pela sala. Sim, esse mesmo. O que me morde os pés, o que chora á noite quando quer companhia, o que me lambe o pescoço quando me deito no chão com ele, o que também gosta de dormir no meu colo. É bom respirar fundo e ver que não acontece nada. É bom estar calma e sentir paz de alma. É bom ver que mais uma vez sobrevivo ao golpe da desilusão. É bom continuar o meu caminho mesmo quando sinto que todos ficaram para trás. É bom ver que me vou adaptando e resistindo. É bom saber que ainda consigo aprender com os erros. É bom saber que continuo a ser eu mesmo quando mais alguém veio aqui só para meter o dedo na ferida. É bom ver que a minha casa continua no mesmo sítio e que eu nunca esqueci o caminho.
Saí da cama só para voltar a tocar estas teclas. Só para poder voltar a deitar tudo para fora e depois dormir em paz. Assim como as crianças fazem.
Estava deitada e a pensar que foi por poucos minutos que nada aconteceu. Mais um bocadinho e talvez tivesse acontecido tudo de novo. Talvez as minhas fracas resistências tivessem voltado a ceder. Mais um momento ali e eu teria voltado a dar tudo de mim. Mais uma vez e teria deixado que um grande erro acontecesse.
Aproveito agora que volto a viver e a recuperar a minha lucidez só para te dizer ou talvez só para fingir que assim te estou a dizer a ti que só mais um minutos na tua presença e poderia ter acontecido algo de grande. Mais um minuto e eu teria voltado a dar tudo...
Penso agora nisso porque nada chegou a acontecer. Penso nisso como penso em tantas outras coisas que ficaram para trás. Penso nisso tal como penso ainda em tantas coisas sobre o meu X. ?Será que ele ainda tem a mesma pronúncia bonita? Será que a voz continua rouca como antes??
Já não tenho saudades dos que decidiram partir, mas continuo a sentir carinho por alguns deles.
Acho que é melhor parar por aqui. Parar antes que eu me volte a perder entre tanta tinta. Vou voltar para a cama. Não porque ainda acredito que é aí que se resolve tudo, mas simplesmente porque me apetece. Porque voltei a falar com a minha solidão. Porque voltámos a dormir lado a lado e a sentir prazer nisso. Recuperei o espaço para onde parto agora...
Cara-de-sonsa listens to Nick Cave: The secret life of the love song
?People they ain?t no good.?
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Voltei a ligar a aparelhagem. Escolhi o c.d. da Diana Krall, lava-me a alma. Faz-me lembrar daqueles dias de inicio de Inverno no ano passado. Aqueles dias em que as aulas recomeçaram e em que eu tinha acabado de recuperar a calma. Aqueles dias em que já tenho de vestir roupa de Inverno e em que passo as manhãs de fim de semana na cama porque está demasiado frio para sair de lá e fico a ouvir o vento e a chuva na janela.
Deus, estou a sentir falta do Inverno, do frio, de Lisboa, da chuva, de ouvir grandes pianadas, de sair de casa antes do sol nascer, de ver um monte de caras e não reconhecer ninguém, de me sentir completamente sozinha numa multidão, de vestir pijamas de Inverno, de ver três filmes de seguida na mesma tarde, beber café bem quente, usar saias com collants bem grossos, sair de casa e apanhar uma grande ventania e ficar despenteada, ficar na cama a ler, sentar-me á janela a ver a chuva a cair, não pensar em nada, nem em ninguém.
Estou farta do Verão. Não gosto do Verão! É a minha época mais depressiva do ano ou então é só a época que não condiz com o meu estado depressivo que parece que dura todo o ano.
Apetecia-me fazer as malas e poder seguir sempre o Inverno para onde ele for.
Sinto falta dos dias frios e cinzentos em que tinha sempre a tua companhia...
Cara-de-sonsa listens to Diana Krall: The Look of Love
?Now that I have found you, don?t ever go. I love you so...?
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Um café, um início de manhã de Setembro, uma mesa, duas pessoas frente a frente, uma janela, o sol coberto, medo das palavras, um cigarro, uma música na cabeça, um passeio perdido de Lisboa...
Ela está tão distante. Queria tocar-lhe. Talvez não deva. Continua com o mesmo olhar triste, mas agora também está vazio. Ela mudou! Já nem parece a minha M.
Como é que eu lhe vou explicar tudo isto com a letra de uma música? Não posso! A letra não me sai da cabeça e é o suficiente para lhe explicar tudo, mas não serve. Ele vai ficar a pensar que me descontrolei de vez. Que merda! Acho que vou acabar por passar a manhã sentada em frente a ele e a fumar. Tirei os óculos de sol, mas não sei se isso chega para ele perceber seja o que for. Ele pode não conseguir ver nada aqui, nos meus olhos... Ela está fria comigo. Parece que não vai falar. Detesto quando ela não fala. Ela fala sempre e com toda a gente. O que é que eu faço se ela não abrir a boca a manhã inteira? Ainda por cima ela não para de fumar. Nem nunca a tinha visto a fumar. Acho que eu estar ou não aqui não lhe faz muita diferença. Estava capaz de matar só para voltar a ver um sorriso naqueles lábios. Ele continua a cheirar como eu me lembrava. Tão bom... Não aguento muito mais. Estou com tanta vontade de lhe tocar que até dói. Talvez eu pudesse pô-lo a ouvir a música. Só tenho que lhe pôr os phones nos ouvidos e pedir-lhe que oiça e tome atenção á letra. Ela não dormiu esta noite. Está com umas olheiras enormes. Parece mais velha. Talvez se eu lhe perguntar alguma coisa ela acabe por falar. Está tão pálida. Se pelo menos eu pudesse resolver tudo e tirar-lhe o que lhe pesa das costas. Não gosto do olhar dela hoje. Humm, ele está com um ar cansado. Nem fez a barba. Gosto tanto de o ver com a barba por fazer... Têm umas mãos e uns pulsos bonitos como eu gosto. E a voz? Continua linda e rouca e com a mesma pronúncia de que eu me lembrava. Tive tantas saudades tuas. Acho que já nem me lembro da letra da música que queria que tu ouvisses. Vou ficar só aqui bem quietinha e a olhar para ti. Se eu pudesse dizer o quanto tive saudades de passar as manhãs na cama a falar contigo. Tive tantas saudades da tua voz. Olha nos meus olhos M.! Continuo a gostar de ti. Tanto que dói. Acho que vou chorar. Take this pain away from me. Mata está dor! Está a doer M.. Olha nos meus olhos! Vou olhar-lhe nos olhos. Eu sabia que tinhas de estar aí ainda, M. Dá-me um sinal... Toca-me! Vou tocar-lhe...
Cara-de-sonsa listens to Jeff Buckley: Forget her
?My heart is frozen still has I try to find the will to forget her somehow. She?s somewhere out there now.?
posted by Sofia Ctx | 1:46 da manhã
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