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segunda-feira, abril 12, 2004
"Ele deixa o centro de luz amarela, vai para longe dela, junto da parede. Mantém-se de olhos baixos para não a ver. Os dois sem nenhum olhar um para o outro, no fingimento instintivo da maior indiferença. Ele espera, ela continua a falar:
- Ele perguntou-me se alguma coisa se tinha passado entre nós os dois. Eu disse-lhe que não, que o meu desejo por si continuava a ser cada vez maior mas eu não lhe dizia a si por causa da sua repugnância pela ideia desse desejo. De repente eu estava nas suas mãos. Deixei-o fazer o que ele quis.
Ela diz que o homem gritava, que estava perdido, que as suas mãos se tinham tornado muito brutais ao tocarem o corpo. Que o prazer tinha sido como se perdesse a vida.
E cala-se. Ele diz:
- Vou partir.
Ela não responde. Voltou a ocupar o seu lugar de adormecida debaixo da luz. Voltou a pôr a seda preta sobre o rosto. Não pediu desculpa.
Ele continua perto da parede. Não se mexe. Não se aproxima. Ela deve pensar: vou-me embora expulsa para sempre. Ele diz-lhe para se cobrir com os lençóis brancos, porque ele não quer ver. Olha para ela a cobrir-se. Ela faz como se não o visse. Ele pede-lhe que o olhe. Ela olha."
Marguerite Duras in Les yeux bleus, cheveux noirs
cara-de-sonsa listens to Beethoven: Für Elise - Liebesträume
posted by Sofia Ctx | 1:18 da manhã
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