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segunda-feira, dezembro 29, 2003
Antes e depois do tango
Acabaram-se os tangos para nós. Não vais voltar a fechar as portas atrás de mim e a pôr o Astor o tocar algo apaixonado só porque sabes que os nossos corpos partilham esse ritmo. Nunca partilhámos nada para além do corpo, o ritmo e a cama...
Esse orgulho nos persegue. Esse orgulho ainda presente nos lençóis úmidos de nosso suor. De todas, na dança, tem os passos mais firmes, os olhos mais sérios, os movimentos mais precisos. De todas, na cama, é a mais orgulhosa, a que melhor finge desinteresse, a que mais precisa de mim.
Foi hoje a última vez que me acendeste uma cigarrilha com o teu corpo ainda suado e o respirar ofegante. Foi hoje a última vez que nos deixámos morrer lado a lado. Foi hoje a última vez que me fizeste engolir gemidos e morder o meu próprio corpo numa tentativa absurda de me controlar.
Após esse copo, te encontrarei no camarim, como muitas vezes, a despir-se e reclamar do seu parceiro dessa noite, de como seus passos eram inseguros ou algum outro defeito. Agarrarei-te com firmeza e dançaremos alguns poucos passos particulares antes de terminamos deitados, suados e com suas unhas firmes nas minhas costas.
Mais cedo ou mais tarde um de nós ía ter de tomar esta decisão, fui eu. Sempre fui eu com mais certezas ou melhor sempre fui eu que soube fingir melhor que tinha certezas e que por uma questão de orgulho nunca dava o braço a torcer.
Você continua tão menina, suscetível às minhas mentiras. Noites e noites brincando de mulher. Esnobe como na primeira noite. E, como na primeira noite, vulnerável ao meu abraço e ás minhas estocadas.
Não fazia sentido continuarmos assim, nunca foste mais que alimento para o meu corpo. Devias ter reparado como eu sempre evitei que a tua língua se aproximasse da minha. Devias ter reparado como antes de cerrar os olhos e os dentes eu ficava sempre com o olhar perdido para lá da janela.
E, no sempre, permaneceremos juntos: você não vive sem mim, sem minha boca nos seus mamilos; eu não vivo sem suas unhas nos meus ombros e costas. Queremos eternos tangos no salão e na cama. Temos, ambos, Astor Piazzola a reger nosso prazer e suor.
Vou seguir e sem olhar para trás. Assim que acabar a minha cigarrilha, parto. Também não fazia sentido ficar, o verniz vermelho com que pintei as unhas dos pés estalou. Ficou tudo diferente.
Afaste seus sapatos do meio do camarim, querida vadia. O copo está no fim e meu desejo está faminto. Os degraus são muitos, mas não me cansarão.
Mas é engraçado como as nossas vozes roucas combinavam, como podíamos dançar uma noite inteira sem parar para descansar, mas isso não interessa. Sou eu que estou sempre cheia de certezas. Sou eu que finjo tão bem...
Vejo a porta no fim do corredor. Acalme-se. Logo esqueceremos do mundo e seremos o tango. Já posso imaginá-la a despir-se no meio do camarim, fingindo-se de mulher, minha menina. Ouça a maçaneta girando sob o peso da mão moradora das suas pernas. Meu corpo está faminto de você.
Sofia CTX & Robson Sobral
cara-de-sonsa listens to Astor Piazzola & Yo Yo Ma: Libertango
posted by Sofia Ctx | 1:06 da tarde
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