cara-de-sonsa
"You can use my skin to bury secrets in..."
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sexta-feira, julho 26, 2002

Um início que não teve nada de comum. Uma troca de palavras pouco simpática, desconfiança, curiosidade e uma tentativa de arranjar bases para podermos manter o ?nosso jogo?, mas o tempo foi passando and it grew to be more than a game.
?Fuck you?, dizia-me ele numa mensagem. ?Fuck you?, disse-lhe eu respondendo com a mesma mensagem e a partir daí foi o que se viu.
Meses passados lado a lado. O primeiro da manhã e o último da noite. Sempre aqui, sempre ali...
Ansiedade vs medo.
A cobardia sempre foi um dos meus pontos fortes e depois sempre é demasiado tempo para se esperar seja pelo que for. Era óbvio que iria acabar afinal, ?tudo o que é bom dura o tempo necessário para se tornar inesquecível? e isso posso garantir que se tornou, inesquecível.
Foi bom, acabou mal. Algumas cicatrizes, muitas memórias, muito sal, poucas saudades. Acabei por me habituar á minha nova situação, á distância, ao silêncio... O tempo passou e agora já nem me lembro muito disso. Foi bom quando tudo acabou e se resolveu cá dentro. Ficaram para trás os actos nascidos de impulsos e as palavras amargas que tantas feridas abriram. Gostei quando finalmente acabou e voltei a ter paz.
Sinceramente, não me interessa muito se agora estás arrependido e voltaste só para tentar resolver seja lá o que for.
Foi bom, mas agora que acabou também é bom. Pelo menos assim não dói e eu tenho de confessar que prefiro quando não me dói. Faz como eu, segue em frente e vai á tua vida. Leva-me contigo se quiseres, mas só como mais uma das tuas memórias.
Foi bom, não foi? Eu também tenho de admitir que gostei, mas gosto mais agora que não passa de uma memória do passado.
Vamos fazer-nos á estrada porque é tudo o que podemos fazer agora.
Zweck!


Cara-de-sonsa listens to Fiona Apple: Angel

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19 de Julho 2002, já a noite ía longa, madrugada mesmo, um calor de fazer qualquer um perder a capacidade de pensar, corpos suados, mais palavras para acrescentar a uma situação ?sem? solução, dois ?ex-conhecidos? (será que se pode ser ex-conhecido?), um ano depois, arrependimento, impossibilidade de reverter os actos, once more trying to reach the end of something that seems to have ended such long time ago...

(...)
- Olha a tipa da província... é por isso que gosto tanto dela.
- Humm, deixa ver. Que figura de estilo é essa? Ironia?
- Não, estou a ser sincero.
- Vá lá, poupa-me...
- É a minha palavra contra a tua suposição.
- Pois, mas a minha suposição é minha.
- Tal como a minha palavra é minha.
- Pois...
- Gostava que qualquer dia conseguíssemos voltar a falar decentemente. Falar normalmente. Isto aqui nunca dá em nada.
- Talvez porque é tudo muito forçado. Porque não conseguimos falar.
- É isso que eu queria mudar, que eu quero mudar. Já passou um ano. Será que não podemos voltar a falar como duas pessoas que se conhecem e esquecer os acontecimentos?
- Pois, não sei que te diga.
- Eu sei.
- Sabes que eu não sei o que te dizer?
- Sei.
- Então deve ser porque eu o disse.
- Não.
- Não interessa. Desisto! Já não devo estar a dizer nada com sentido.
- Estás sim.
- Ainda bem que alguém percebe o que eu digo.
- Imagino... Por favor diz-me, o que é que te lembras melhor?
- Melhor? Lembro-me de me dizeres para não voltar a falar contigo porque não tinhas tempo para mim.
- Eu disse isso? Deves estar enganada. Eu não sou assim arrogante e se por acaso o disse estou arrependido. Não queria ter dito isso.
- Mas disseste, disseste isso. Eu lembro-me, tenho a certeza que foi o que disseste.
- Desculpa!
- ...
- Posso retirar o que disse?
- Não, já está dito.
- Pois...
Então, volta a falar comigo, tenho tempo para ti!
(...)

As vezes as situações tomam rumos tão estranhos. Não corre tinta, mas ?corre? saliva. Será que algum dia vamos aprender a pensar antes de agir, a não nos arrependermos quando já é tarde demais, quando as coisas já estão feitas?
Imbecilidade humana...
É pena quando se destroiem as memórias bonitas por descontrolo. É pena quando os nossos actos se transformam em arrependimento. É pena nunca podermos voltar atrás para tentar remediar as situações. É pena tanta coisa ser como é, na vida. Mas também o facto de as coisas serem como são é que nos devia fazer aprender a agir de maneira diferente.
É tão estranho quando tentamos resolver problemas que parece que já se passaram há tanto tempo que nem percebemos porque ainda estamos a tentar resolve-los.
Parece que há histórias que simplesmente tem de acabar sem nunca terem um fim concreto, sem nunca serem resolvidas... Cada história é uma história diferente. Para quê mudar? Vamos deixar as memórias como elas estão, não vamos mexer mais no que já passou. Deixemos o passado descansar. This is how things work in real life. This is not just a movie and there is not such a thing as happy endings in real life so, we better get used to it...



Cara-de-sonsa listens to Marisa Monte: Bem que se quis
?Bem que se quis depois de tudo ainda ser feliz, mas já não há caminho para voltar...?

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Há uma chama que queima que vai queimando o mundo
e arde em volutas leves no peito dos amantes
ou esmorece como uma lua ténue nos olhos apagados
dos que não sabem despedir-se de um mundo em que brilharam

O mundo o que é o mundo um rumor redondo
para uns e para outros uns obscuro rumor
Mas a chama verde que docemente treme
nos corações amantes é o mundo que nasce e vibra
em arcos tensos em túmidas corolas
Não podem morrer essas ondas de argila
de fogo tão fremente de tão redonda altura
O mundo canta nessas guitarras que se incendeiam
e se levantam e se estendem como violentas torres e desmaiadas praias
Eles habitam a redonda profundidade
e afastam com um sopro um rio de dentes
Tal é o mundo em que as espadas de sombra
ardem e respiram entre a lua e o sangue

Mas o mundo para outros é um planeta de aranhas
um abismo onde apodrecem os peixes
e as tentaculares entranhas se agitam como cobras
Esses já beijaram a lua quando não era negra
e vogaram em preguiçosos barcos sobre o ouro das ondas
Vibram ainda acaso entre espumas livres
ou querem adormecer para não ouvir os violentos martelos
que dilaceram um rosto que ondulava com a luz das suas veias?

O mundo ah o mundo tão inteiro e tão redondo
e tão estilhaçado em pérolas de cal
tão escuro como um pássaro de lama
tão fugidio como uma sombra errante
Ah o mundo irrevogável irrevogavelmente perdido
para os que subiram as suas escadas solares
e agora se agitam sobre um violento leito negro!


António Ramos Rosa in Delta seguido de Pela Primeira Vez (1996)



Cara-de-sonsa listens to Clã: Lado Esquerdo
?Meu lado esquerdo é mais forte do que o outro. É o lado da intuição, é o lado onde mora o coração. Meu lado esquerdo Oriente do meu instinto. É o lado que me guia no escuro, é o lado com que eu choro e com que eu sinto.?


posted by Sofia Ctx | 11:16 da tarde

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