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"You can use my skin to bury secrets in..."
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terça-feira, julho 16, 2002


Hoje acordei cedo. Desde as 9h da manhã que estou sentada em frente ao computador a fazer limpeza, queria apagar tudo o que me está a ocupar memória e não é só no computador. Queria apagar tudo para não sobrarem vestígios. Para poder fingir que foi só mais um sonho mau como todos estes das últimas noites.
Meses e meses de conversas, palavras, letras. Tudo há já tanto tempo ou tudo só ontem...
Foram todos vencidos pelo cansaço, venci-os a todos pelo cansaço, cansei-os e agora também eu tou cansada.
É pena que se tenha de aprender com os erros, é pena que eles não tenham solução, é pena que tenhamos de aprender a viver com eles, é pena que o tempo não apague nada. Se pudesse apagar tudo o que fiz nos últimos dois anos nem pensava sequer uma vez, apagava tudo. Preferia nunca ter tido nada a ter que sofrer com os meus erros.
Como é duro ser-se imbecil e não se nascer ensinado. Como é duro ter de aprender às custas dos nossos próprios erros. Como é duro ter cobardia a correr nas veias. Como é duro “sofrer” de boa memória e lembrar-me todos os dias das merdas que já passaram, que estão feitas e ainda ter de viver com elas fingindo que está tudo bem. Pois não está, não está nada bem.
As memórias não me deixam em paz. São umas putas que a cada oportunidade me fodem o juízo. É só eu começar a exalar este cheiro a saudade que parece que se agarra ao corpo e lá vêm elas para se aproveitarem da minha vulnerabilidade e sugarem toda a força deste corpo e levarem o resto de dignidade que ele ainda carrega consigo. As memórias são mesmo umas grandes putas que não perdem uma oportunidade de me foder o juízo.
Primeiro cansei-os e agora é a solidão dos meus actos que me cansa. Se o arrependimento matasse... Mas de que servia mais um suicídio nascido de um acto impulsivo e cobarde de tentativa de fuga quando a merda já tá feita? A morte nunca resolveu nada e também não há-de resolver agora. Desistir não é solução, mas um agravar dos actos dos quais nos arrependemos.
Como eu tanto dizia há alguns meses atrás: “As desculpas não se pedem, evitam-se.” Quando não se é capaz de as evitar então cometem-se os erros e tentamos aprender com eles. Mesmo quando as memórias não nos largam o juízo e nos fazem querer desistir a cada momento de saudade.
Suponho que seja isso que faz a diferença, aguentar a saudade, aprender a viver com as memórias e começar a evitar os erros que nascem carregados de arrependimento. Pode ser que um dia eu acabe mesmo por aprender tudo isso. Pode ser, pode ser...



Cara-de-sonsa listens to Rui Veloso: Praia das Lágrimas
“Oh mar salgado eu sou só mais uma das que aqui choram e te salgam a espuma...”



posted by Sofia Ctx | 11:50 da tarde

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